No debate envolvendo a PEC dos gastos vira
e mexe aparece a questão dos juros – supostamente a parte que vai para os
“rentistas”. Classe que, miseravelmente, é poupada em detrimento dos velhinhos.
Tem muita coisa para falar sobre o tema.
Uma delas é a confusão que parece atrapalhar até economistas honestos.
Refiro-me ao efeito da inflação sobre a participação dos juros no PIB.
Imagine uma economia estagnada, sem inflação, em que a
dívida representa 50% do PIB e a taxa real de juro é igual a zero.
Trata-se de uma situação de equilíbrio, certo? Em 100 anos, a dívida continuará
representando metade do PIB e o "rentista" não ganha absolutamente nada.
Muito bem. Se a inflação passar a 10%, a taxa
nominal de juro se elevará também para 10% e a “conta de juro” aumentará para 5% do PIB
(10% de 50%). À primeira vista soa estranho porque a inflação entra acima e
abaixo na razão dívida/PIB. É verdade: no ano seguinte, tanto a dívida quanto o
PIB terão crescido 10% e a relação continuará a mesma.
Mas tem gente boa que parece esquecer disso e fala da "conta de juro" como se ela não embutisse uma inflação alta. A foto fica mais feia para o “rentista”
sem que nada tenha mudado. E é um prato cheio para os vigaristas fazerem fumaça no debate da PEC.
Moral da história: a inflação amplifica a
importância do gasto efetivo com juros. Um governo que promete hoje pagar 10%
de juro e pratica amanhã inflação de 10% está, na verdade, dando um calote no
“rentista”.
Quem estudou macro lendo o saudoso Mário Henrique Simonsen não cai na armadilha. O problema é que gente como o duzinho só quer saber de modelos de equilíbrio geral dinâmicos estocásticos.
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