terça-feira, 8 de novembro de 2016

A confusão da "conta de juros"

No debate envolvendo a PEC dos gastos vira e mexe aparece a questão dos juros – supostamente a parte que vai para os “rentistas”. Classe que, miseravelmente, é poupada em detrimento dos velhinhos.

Tem muita coisa para falar sobre o tema. Uma delas é a confusão que parece atrapalhar até economistas honestos. Refiro-me ao efeito da inflação sobre a participação dos juros no PIB.

Imagine uma economia estagnada, sem inflação, em que a dívida representa 50% do PIB e a taxa real de juro é igual a zero. Trata-se de uma situação de equilíbrio, certo? Em 100 anos, a dívida continuará representando metade do PIB e o "rentista" não ganha absolutamente nada.

Muito bem. Se a inflação passar a 10%, a taxa nominal de juro se elevará também para 10% e a “conta de juro” aumentará para 5% do PIB (10% de 50%). À primeira vista soa estranho porque a inflação entra acima e abaixo na razão dívida/PIB. É verdade: no ano seguinte, tanto a dívida quanto o PIB terão crescido 10% e a relação continuará a mesma. 

Mas tem gente boa que parece esquecer disso e fala da "conta de juro" como se ela não embutisse uma inflação alta. A foto fica mais feia para o “rentista” sem que nada tenha mudado. E é um prato cheio para os vigaristas fazerem fumaça no debate da PEC.

Moral da história: a inflação amplifica a importância do gasto efetivo com juros. Um governo que promete hoje pagar 10% de juro e pratica amanhã inflação de 10% está, na verdade, dando um calote no “rentista”. 

Quem estudou macro lendo o saudoso Mário Henrique Simonsen não cai na armadilha. O problema é que gente como o duzinho só quer saber de modelos de equilíbrio geral dinâmicos estocásticos. 

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