Difícil
engolir a vitória de Trump. Assim como desceram quadrados os resultados de
referendos no Reino Unido e na Colômbia. Este conjunto de informações projeta
vitórias da Frente Nacional na França e do MoVimento 5 Stelle na Itália. Alguém
afirma que Bolsonaro nunca vai ganhar no Brasil? Complicado.
A
democracia está patinando. Um dos melhores livros que li nestes últimos anos
(recomendado pelo Duzinho, diga-se de passagem), “The Myth of the Rational
Voter”, de Bryan Caplan, oferece uma explicação que para mim soa quase que
definitiva.
Os caminhos
usuais para explicar o aparente fracasso da democracia vão, por exemplo, na
direção de descrever os “representantes do povo” como picaretas que viram as
costas ao eleitorado após eleitos. Alternativamente, de modo complementar,
retrata-se o eleitorado como uma massa ignorante que assina cheques em branco a
populistas que perseguem agendas próprias e de seus financiadores.
Caplan
desenvolve uma história diferente, para mim muito mais convincente. Se os
eleitores fossem apenas ignorantes, a democracia deveria funcionar melhor por
conta de um artifício estatístico conhecido como a “lei dos grandes números”. O
voto da maioria ignorante se cancelaria e as melhores escolhas seriam o
resultado natural de uma “elite esclarecida”.
Segundo
Caplan, o problema é que o eleitorado (incluindo a elite) não é apenas
ignorante: é irracional. O eleitorado escolhe sistematicamente políticas
erradas e o sistema político entrega o que o eleitorado quer. A
"elite" não acredita no livre-comércio, valoriza empregos mas não
produtividade, demoniza o estrangeiro e é refém de teses apocalípticas.
Se você tem
dúvida, leia algumas opiniões pré-formadas de "intelectuais" no
Brasil sobre os dilemas à frente, absolutamente imunes a um contraditório
factual (e lógico). Todo mundo se sente aparelhado a opinar sobre coisas que
desconhecem - às vezes com ingenuidade bem intencionada, às vezes para ficar
bem com a patota, às vezes defendendo o quinhãozinho. Não importa o motivo, o
resultado é o mesmo: falácias que "soam como verdadeiras" são muito
mais bem sucedidas eleitoralmente do que a dura verdade - João Santana é um
mestre neste tipo de mentira.
Caplan fala sobre seu livro neste vídeo - como uma metralhadora, mas vale a pena.
Caplan fala sobre seu livro neste vídeo - como uma metralhadora, mas vale a pena.
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