quarta-feira, 9 de novembro de 2016

America Great Again

Difícil engolir a vitória de Trump. Assim como desceram quadrados os resultados de referendos no Reino Unido e na Colômbia. Este conjunto de informações projeta vitórias da Frente Nacional na França e do MoVimento 5 Stelle na Itália. Alguém afirma que Bolsonaro nunca vai ganhar no Brasil? Complicado.

A democracia está patinando. Um dos melhores livros que li nestes últimos anos (recomendado pelo Duzinho, diga-se de passagem), “The Myth of the Rational Voter”, de Bryan Caplan, oferece uma explicação que para mim soa quase que definitiva.

Os caminhos usuais para explicar o aparente fracasso da democracia vão, por exemplo, na direção de descrever os “representantes do povo” como picaretas que viram as costas ao eleitorado após eleitos. Alternativamente, de modo complementar, retrata-se o eleitorado como uma massa ignorante que assina cheques em branco a populistas que perseguem agendas próprias e de seus financiadores.

Caplan desenvolve uma história diferente, para mim muito mais convincente. Se os eleitores fossem apenas ignorantes, a democracia deveria funcionar melhor por conta de um artifício estatístico conhecido como a “lei dos grandes números”. O voto da maioria ignorante se cancelaria e as melhores escolhas seriam o resultado natural de uma “elite esclarecida”.

Segundo Caplan, o problema é que o eleitorado (incluindo a elite) não é apenas ignorante: é irracional. O eleitorado escolhe sistematicamente políticas erradas e o sistema político entrega o que o eleitorado quer. A "elite" não acredita no livre-comércio, valoriza empregos mas não produtividade, demoniza o estrangeiro e é refém de teses apocalípticas.

Se você tem dúvida, leia algumas opiniões pré-formadas de "intelectuais" no Brasil sobre os dilemas à frente, absolutamente imunes a um contraditório factual (e lógico). Todo mundo se sente aparelhado a opinar sobre coisas que desconhecem - às vezes com ingenuidade bem intencionada, às vezes para ficar bem com a patota, às vezes defendendo o quinhãozinho. Não importa o motivo, o resultado é o mesmo: falácias que "soam como verdadeiras" são muito mais bem sucedidas eleitoralmente do que a dura verdade - João Santana é um mestre neste tipo de mentira.

Caplan fala sobre seu livro neste vídeo - como uma metralhadora, mas vale a pena.

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